sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Hang Loose com produção especial para os 10 anos

Fonte: ASP South América

Campeonato mais tradicional do surfe brasileiro, o Hang Loose Pro Contest acontece pelo 23º ano consecutivo, sendo a décima edição no paradisíaco arquipélago pernambucano de Fernando de Noronha. Com nível cinco estrelas, a prova rola entre os dias 9 e 15 de fevereiro e distribui US$ 120 mil de premiação, com a vitória valendo 2.000 pontos no ranking do World Qualifying Series (WQS).

Para comemorar o décimo ano da prova em Noronha, nada mais justo do que convocar um ícone da cultura nordestina para criar a arte do evento. Foi exatamente isso que a Hang Loose fez com José Francisco Borges, ou J. Borges (como ele prefere ser chamado), 74 anos, um dos artistas mais expressivos do cenário nacional, que leva ao mundo em versos e traços o universo cultural nordestino, dos costumes às lendas fantásticas, em um incrível repertório de “causos” contados com visão bem humorada.

No segundo semestre do ano passado, Alfio Lagnado, fundador da Hang Loose e colecionador de arte popular, visitou o ateliê de J. Borges acompanhado pela amiga Ana Maria, que intermediou o contato para a visita. Repleto de paredes empoeiradas e abarrotadas de artes, o espaço está localizado à beira de uma estrada em Bezerros, no agreste pernambucano.

Após tomarem uma garrafa da cachaça “Pau Dentro” e fecharem alguns negócios, surgiu a idéia de celebrar os 10 anos de evento na ilha com a arte do folclórico J. Borges, que aceitou de bate pronto o convite e sugeriu comemorarem a parceria saboreando carne de cabrito em um restaurante na beira da estrada.

“Enquanto esperávamos a refeição, peguei um guardanapo e desenhei uns garranchos com elementos de Noronha para ele ver. J. Borges ainda brincou: ‘Depois dizem que eu é que desenho mal’. Ele usou a fértil imaginação para retratar o cenário, pois não tinha nenhuma referência do local”, explica Alfio.

A partir daí, J. Borges deu asas à imaginação e criou a imagem que originou o cartaz, palanque, toda comunicação visual e troféus do Hang Loose Pro Contest 2009. Nascido no povoado de Piroca, em Bezerros, J. Borges é filho de agricultores e, aos 8 anos, já empunhava a enxada. Foi para a escola só aos 12 anos, mas a freqüentou por apenas 10 meses.

“Resolvi sair pela vida”, comenta. Foi marceneiro, mascate, pintor de parede, oleiro e confeccionou cestos de balaio para vender na feira. Na adolescência, trabalhou com o jogo do bicho, fabricou lajes e tijolos e confeccionava móveis de brinquedo. O processo artesanal da produção de cordéis e um talento peculiar para criar xilogravura fazem dele o maior gravador popular do Brasil. Consagrado pela criação de um estilo próprio, o artista demonstra extraordinária capacidade de reinterpretar criativamente o imaginário nordestino.

Graças aos folhetos de cordel, J. Borges fortaleceu o gosto pela escrita. Aos 20 anos (em 1954), juntou uns trocados e comprou cordéis de outros escritores para vender nas feiras. Ele também escrevia os próprios versos, mas mantinha-os às escondidas, por vergonha. Em 1964, aos 29 anos, enfim publicou sua primeira obra: O Encontro de Dois Vaqueiros no Sertão de Petrolina.

Ele costuma dizer que esta publicação lhe rendeu cinco “milheiros de muita sorte” em apenas dois meses. Animado com o resultado, escreveu o segundo cordel: “O verdadeiro aviso de Frei Damião Sobre os Castigos que Vêm”, que o conduziu pela primeira vez à técnica do entalhe.

A principal arte de J. Borges não são os versos, e sim a xilogravura. E ele descobriu isso por acaso. Sem dinheiro para comprar as chapas de zinco que serviam de base para a confecção das capas dos cordéis, pegou um pedaço de imburana e talhou a fachada de uma igreja, dando início à carreira de xilogravador. O desenho estampou a capa de seu segundo trabalho e ele seguiu colocando na madeira o ideário sertanejo: o diabo, Lampião, prostitutas, vaqueiros, festas de São João.

No total, lançou mais de 200 cordéis ao longo da vida. A partir de 1970, J. Borges começou a receber pedidos para ampliar seus trabalhos em preto e branco. “Não sabia por que aquele povo da cidade queria tanto meus desenhos ruins”, comenta.

As obras chegaram até ao escritor Ariano Suassuna, que virou seu padrinho e o considera o melhor gravador popular do país. A partir daí, os trabalhos passaram a circular nos meios acadêmicos e artísticos, que antes viam com desdém a xilogravura. As ilustrações de J. Borges estamparam capas de discos e livros, como “As Palavras Andantes”, do escritor uruguaio Eduardo Galeano e gravuras suas foram usadas na abertura da telenovela Roque Santeiro, da Rede Globo.

Fora de seu Estado, J. Borges ficou conhecido a partir da década de 70, quando atraídos pela riqueza histórica de sua obra, artistas plásticos, intelectuais e marchands encomendaram xilogravuras e fortaleceram sua arte. Depois de cair nas graças dos principais curadores de arte popular do mundo, J. Borges foi convidado para dar palestras nos EUA, na França, na Venezuela e na Suíça. Ministrou aulas sobre xilogravuras e cultura do cordel com a ajuda de tradutores.

Ele também já expôs no exterior: em 1992, na Galeria Stähli, em Zurique, e no Museu de Arte Popular de Santa Fé, Novo México. Sua arte também já dividiu espaço no Museu do Louvre com Leonardo da Vinci e Botticelli. Apenas em uma turnê, J. Borges percorreu 20 países europeus. Ele já foi tema de uma reportagem no jornal “The New York Times” (2006) e é apontado como um gênio da arte popular. Um lote de xilogravuras de sua autoria foi arrematado por US$ 30 mil num leilão nos Estados Unidos, mas o dinheiro foi para um colecionador que garimpa obras de artistas populares.

“Não sou rico, não! Gasto quase tudo para pagar minhas dívidas e comprar material para novas obras”, diz Borges. É o artista que sustenta toda a família, composta por 10 filhos, a mulher e duas ex. Atualmente vive numa casa simples de dois quartos com quatro filhos e a terceira esposa. J. Borges também foi condecorado com a comenda da Ordem do Mérito pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, recebeu o prêmio UNESCO na categoria Ação Educativa / Cultural. Em 2002, foi um dos 13 artistas escolhidos para ilustrar o calendário anual das Nações Unidas. Sua xilogravura A Vida na Floresta abre o ano no calendário.

Com patrocínio exclusivo da Hang Loose, a 10ª. edição do Hang Loose Pro Contest em Fernando de Noronha conta com a importante parceria do Governo do Estado de Pernambuco (por intermédio da Empetur – Secretaria de Turismo) e Administração de Fernando de Noronha, Projeto Tamar, Napali Supatech Ribstop, além do co-patrocínio das lojas Star Point, Central Surf, Overboard, Bleat, Hot Water, Sthill, KYW, WQSurf, Bali Surf Shop, Star Surf, Tchuk Jhones e Surfstore. O evento homologado pela ASP South America como terceira etapa do WQS, ainda conta com apoio da Federação Pernambucana de Surf, Associação Nordestina de Surf (ANS), Gráfica Formags, Revista Fluir e site Waves/Terra.

GALERIA DOS CAMPEÕES DO HANG LOOSE PRO CONTEST:

2008: Raoni Monteiro (BRA-RJ) na Cacimba do Padre, Fernando de Noronha (PE)
2007: Aritz Aranburu (ESP) na Cacimba do Padre, Fernando de Noronha (PE)
2006: Jean da Silva (BRA-SC) na Cacimba do Padre, Fernando de Noronha (PE)
2005: Bobby Martinez (EUA) na Cacimba do Padre, Fernando de Noronha (PE)
2004: Warwick Wright (AFR) na Cacimba do Padre, Fernando de Noronha (PE)
2003: Neco Padaratz (BRA-SC) na Cacimba do Padre, Fernando de Noronha (PE)
2002: Victor Ribas (BRA-RJ) na Cacimba do Padre, Fernando de Noronha (PE)
2001: Fábio Silva (BRA-CE) na Cacimba com finais no Abras, Fernando de Noronha (PE)
2000: Guilherme Herdy (BRA-RJ) na Cacimba do Padre, Fernando de Noronha (PE)
2000: Crhistiano Spirro (BRA-BA) na Praia de Maresias, São Sebastião (SP)
1999: Richard Lovett (AUS) na Baía de Maracaípe, Ipojuca (PE)
1999: Peterson Rosa (BRA-PR) na Praia de Maresias, São Sebastião (SP)
1998: Armando Daltro (BRA-BA) em Gaibú, Cabo de Santo Agostinho (PE)
1997: Marcelo Nunes (BRA-RN) na Baía de Maracaípe, Ipojuca (PE)
1996: Fábio Silva (BRA-CE) na Baía de Maracaípe, Ipojuca (PE)
1995: Peterson Rosa (BRA-PR) na Praia das Pitangueiras, Guarujá (SP)
1994: Matt Hoy (AUS) na Praia das Pitangueiras, Guarujá (SP)
1993: Joey Jenkins (EUA) na Praia das Pitangueiras, Guarujá (SP)
1992: Nicky Wood (AUS) na Praia das Pitangueiras, Guarujá (SP)
1991: Nicky Wood (AUS) na Praia das Pitangueiras, Guarujá (SP)
1990: Fábio Gouveia (BRA-PB) na Praia das Pitangueiras, Guarujá (SP)
1989: Glen Winton (AUS) na Praia da Joaquina, Florianópolis (SC)
1988: Tom Carroll (AUS) na Praia da Joaquina, Florianópolis (SC)
1987: Tom Carroll (AUS) na Praia da Joaquina, Florianópolis (SC)
1986: Dave Macaulay (AUS) na Praia da Joaquina, Florianópolis (SC)

Postagens Relacionadas: