sexta-feira, 26 de junho de 2009

Maya Gabeira em entrevista

Fonte: Câmera Surf

A ‘Huck Magazine’ entrevistou a brasileira 'bigrider' Maya Gabeira, uma mulher que veio revolucionar o surf feminino em ondas grandes.

A filha mais nova de Fernando Gabeira, político do cenário brasileiro, Maya não se enquadra no tradicional estilo de jovens da América Latina. Ela não se interessa por roupas caras, não se importa de estar no sol o dia inteiro, e quase nunca sai à noite. Tudo o que ela quer é surfar ondas – ondas extremamente grandes!

Em Abril deste ano, ela ganhou a importante prêmio Billabong XXl Global Big Wave na categoria Feminina pela terceira vez consecutiva. É como ganhar a ‘World Cup’ do surf de ondas grandes três vezes seguidas. Os vencedores, geralmente, são mais velhos, mas aos 22 anos de idade, ela repete a conquista para orgulho do surf brasileiro.

- Você ganhou o XXL pela terceira vez consecutiva. Qual foi a ‘maluquice’ que fizeste desta vez para garantir mais um prêmio?

A onda que contou mais para a minha vitória foi no ‘Outer reef’, em Oahu. Tinha cerca de 15 a 18 pés, e eu estava fazendo tow-in com o Carlos Burle. Mas para ganhar esse prêmio novamente, eu primeiro surfei Teahupoo, Alaska, Puerto Escondido, Waimea Bay, Jaws e o Outer Reef, em Oahu. O ano inteiro resultou no 3º prêmio XXL.

- Descreva o teu dia perfeito:

Waimea com mais de 25 pés com a minha 10’4. Eu rezo para que fique assim, mas já faz dois anos desde a última vez que esteve tão grande.

- Sente-se mais confortável quando encara estas ondas na remada do que no Tow-in, não é?

Sim, eu comecei à pouco tempo a fazer tow-in e me apavoro– é muito estressante. Depois daquela sessão em Teahupoo eu fiquei doente – é demais para o meu corpo. Mas dentro de uns anos eu vou estar bem.

- Descreva a famosa onda de Teahupoo:

Esse foi o maior dia do Tahiti de alguns anos para cá e toda a gente estava lá, eu quero dizer toda a gente: todos os fotógrafos, os pros, as lendas, os patrocinadores, 15 jet-skis, helicópteros, uma confusão. Eu tinha caído em duas ondas que tinha tentado antes e bati no ‘reef’ com bastante força. Por isso aleijei-me, estava com medo e insegura quando o Burle veio falar comigo e disse “Embora, vamos apanhar uma agora!”, eu disse que estava morta de medo e ele disse “Toda a gente está com medo, eu também estou com medo, mas vou apanhar uma agora!”

- Desculpa interromper, mas como é que vocês falam se ele está conduzindo o jet-ski?

Bem, na verdade nós gritamos, mas sentimos como se tivéssemos falando. Ele conduziu até ao ‘outside’ e umas enormes massas de onda levantaram-se, e eu me lembro dos rapazes lá fora deixarem para nós. Porque tu tens os melhores surfistas em cada Jet-ski e aquela não era realmente a nossa onda. Mas Burle carregou forte nessa e eles afastaram-se do caminho e gritaram “Vai Maya” (Os olhos de Maya ficam encharcados enquanto ela conta a história).


- Estava usando capacete?

Não. Então ele posicionou-me lá dentro e quando eu larguei a corda lembro-me de ver este enorme surfista Tahitiano remar com os olhos muito abertos e gritando para mim. Então eu disse para mim mesma 'Eu tenho de ir para a frente, eu tenho de ganhar velocidade’ (Maya tem lágrimas nos olhos neste momento). Então eu consegui, eu surfei aquela coisa. Todo aquele som e ruído comigo, toda aquela força até que cai por causa do fumo atrás de mim, mas foi mesmo no fim e Burle veio salvar-me e disse “Fuck, man! That was big! Fuck!”.

- Qual foi o pior wipe-out que já enfrentou?

Já tive alguns feios em Waimea, mas Teahupoo foi o pior. O famoso do YouTube foi mau (risos). O meu último lá, eu bati com o corpo no ‘reef’, também fui lançada para debaixo de água. Nessa noite eu acordei chorando com os pés enormes e inchados. Posso dizer que não foi muito engraçado.

- Li que fozeste um curso para aprender a fiar mais tempo debaixo da água, O que é muito importante para a sua linha de trabalho, não?

Sim, mas eu não aguento muito tempo, apenas 1 minutos e 40 segundos. Não parece mau, mas é. Eu acredito que o segredo é estar fisicamente preparado e não entrar em pânico.

- Já entrou em pânico alguma vez?

Sim, já perdi energia, mas nunca pensei que fosse morrer. Nunca.

- Tens medo de morrer?

Não…. Tenho medo de me machucar seriamente.

- Alguma vez aconteceu?

Ainda não.

- Mas sabes,q eu quanto mais surfar estes enormes monstros mais chance tens...

Eu sei, mas isso é porque eu ainda caio e não se pode cair neste tipo de ondas. Os rapazes não caem tanto. Bem, quando acontecer então me preocupo e farei muita fisioterapia, certo?

- Acha que os teus pais sabem do grande risco que corre lá fora?

Ninguém sabe, na verdade. Apenas os surfistas sabem. Como explicar um ‘set’ que fecha em Waimea, a uma pessoa que não surfa? Uma foto ou um vídeo não lhe faz justiça.

- A adrenalina que ‘rola’ numa onda enorme justifica o risco que passa?

Eu acho que equilibra o desafio, eu me preparo porque, como podes imaginar, é difícil estar ali. É difícil até só acreditar que tu podes estar ali. Tens de treinar muito para acreditar.

Mais notícias sobre esta grande atleta brasileira no site: http://www.mayagabeira.com.br/

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