domingo, 30 de novembro de 2008

Lendas do Surf

Fonte: George Martins

Lendas do Surf - Galeria de Ícones do Surf Brasileiro

Eu sei que tem gente nos achando preconceituosos por só estar postando ícones do Rio. Afinal, cadê os surfistas de São Paulo, do Sul e do norte? Bom, da Bahia, Lapo Coutinho está me devendo uma lista de ícones. Do sul, a Cris Engler vai me mandar o material para a Conexão de Surf do sul. Estamos providenciando alguém que organize os ícones de São Paulo. Pra mostrar que estamos abertos a todos os ícones do surf, vou postar os legends de uma ilha que acabo de descobrir, o WAVETOON. Eis o primeiro.

Jonas Dulong:

Desde pequeno freqüentou a arrebentação levado por seu pai, mas só foi descobrir o surf quando os pioneiros começaram a surfar na Praia Grande na década de 50.

Jonas ficava observando aqueles garotos mais velhos se divertindo e logo deu um jeito de arranjar um madeiritte para poder participar da turma.

O cara logo começou a destacar-se pela fluidez e harmonia de seu surf. Jonas fez escola nos anos setenta no Píer da praia Grande e foi um dos primeiros a migrar do longboard para as mini-model. Muita gente em Wavetoon copiou o seu jeito de pegar ondas. Surfar bem para ele significava ter estilo, fazer cada manobra com perfeição.

Foi Jonas que trouxe para Wavetoon a “Escola do Envolvimento” de Bob McTavish, Nat Young e George Greenough. A idéia era andar mais intensamente por dentro e próximo à crista da onda sem perder velocidade e aproveitando todas as possibilidades.

No fim dos anos setenta ele foi ao Hawaii.

Infelizmente, num dia clássico de Waimea, 30 plus, ele remou numa enorme direita, perfeita e lisa, parecendo ter o domínio total da situação. Foi então que o inesperado aconteceu; uma seção à sua frente fechou e ele foi apanhado pelo lip desaparecendo na espuma.

Atrás desta onda uma série enorme entrou fechando a baía. Nunca mais foi visto...

Pra quem não sabe, wavetoon fica em http://wavetoon.blogspot.com

Otávio Pacheco

Targão, para os amigos, é um cara que está em todos os momentos do surf, sempre em posição de destaque.

Garoto, no Arpoador, já pegava de pé em cima de pranchas de isopor, as planondas, com uma quilha do lado contrário e revestidas de pano pra não ralar o peito.

Depois foi bom nas maderites, entrava na onda sem pé de pato, andava até o bico, coisa que só o Betinho e mais uns poucos conseguiam fazer.

Foi um grande surfista de ondas grandes no Havai, onde até hoje é respeitado, até amigo do Fast Eddie ele é.

Foi produtor do filme Nas ondas do Surf, do Livio Bruni, onde segurou à maior "onda".

Agora, seu maior feito foi ter ficado um ano viajando de kombi pela América do Sul, Peru e adjacências, na companhia do Xuxa (que virou médico nos EU e sumiu), e Paulinho Proença.

Imagina só o que é ficar um ano numa kombi com o Rato?

Paulo Sefton

Conheci o Paulinho Sefton na primeira vez que fui ao sul, 1971 se não me engano, em Imbituba.

Os gaúchos mandavam por lá, Alemão Caio, um monte de gente, e Paulinho se sobressaia por ser o mais maluco, o mais corajoso, o que pegava as ondas maiores.

Eu ficava impressionado com ele, bem menino, caindo sozinho na Vila grande, fim de tarde, sem ninguém pra pedir ajuda na roubada.

Agora, o que mais me impressionava era ele dirigindo seu fuscão branco de tala larga.

Uma vez a gente estava indo pra Laguna, pela BR, quando Paulinho foi fazer uma ultrapassagem pela contramão na curva. Vinha um caminhão do outro lado, por sorte tinha um posto de gasolina bem na curva, ele entrou pelo posto á toda, tinha água e óleo na pista, ele rodou, atravessou o posto girando, saiu do outro lado, consertou o carro e continuou como se nada tivesse acontecido. Eu vinha logo atrás, só de olhar fiquei tremendo de medo, e ele minimizou depois, como se fosse coisa normal.

Depois vou falar sobre os caras do Sul, a Cris Engler está me devendo à estória do surf lá, mas não posso deixar de falar no Paulinho agora.

Ele continua a surfar super bem, tem uma pousada e um camping em Ibiraquera, está sempre nos primeiros lugares dos campeonatos de longboard.

Henrich Von der Schulenburg

Espero que esteja escrito certo. O nome é bem pomposo. Ou Henrique da Bennet, agora Henrique da Rhyno.

Henrique namorava uma menina que tinha casa perto de mim em Guaratiba.

Ficamos amigos. Estava sempre lá, em volta de minha oficina.

Ele sempre foi perfeccionista, fissurado, bem prussiano mesmo. Era um excelente surfista, depois foi morar na Califórnia, trabalhou na Gordon& Smith, virou um excelente shaper, voltou pro Brasil e montou a fábrica de espumas Bennet Foam.

As suas espumas são de primeira qualidade, seus plugs de primeira também, trouxeram nossa indústria ao primeiro mundo.

Nunca mais foi visto na praia, outro dia o encontrei num campeonato da Prainha, e entendi por que. Aturar um monte de shapers chatos deve ser dose mesmo.

Ah, Henrique me apresentou á mãe de meu filho, não poderia querer uma mãe melhor, me faz muito grato a ele.

Bocão

Bocão é um cara entusiasmado, apaixonado pelo surf, que tem vários motivos para ser um ícone desta cultura.

Sempre foi fissurado, lembro de um dia em que eu apareci na praia com uma prancha, Bocão era bem garoto, ele viu a prancha e me falou, parece com uma que está na página número tal da Surfer Magazine do mês tal, ano tal. Fui ver e era.

O cara sabia as páginas das Surfers de cor!

Foi o criador do Realce, programa de TV que deu visibilidade ao surf, junto com o Antonio Ricardo. Depois disto teve vários outros programas contribuíram para a consolidação do surf na mídia eletrônica, agora tem um canal de esportes radicais, o WOOHOO.

Agora, para mim, sua mais sensacional contribuição foi a invenção da quadriquilha. A gente precisa aprender a dar valor ao que é criado por aqui.

Hoje foi um dia abençoado! frase do Wady. Concordo.

O Rosaldo organizou uma homenagem ao Peter Troy, para ser realizada durante o campeonato WQS que se realiza no Arpoador.

A idéia era irmos remando até o pontão, fazer aquele circulo havaiano, etc Não deu, por motivos técnicos da prova, mas em seu lugar, tivemos uma rodada de encontros e conversas que valeram todo o esforço do Rosaldo.

Apareceram por lá o Arduíno, que estava sumido já há algum tempo, Mário Bração, Fernanda Guerra, Wady, eu, Rosaldo, Bocão, Sabbá, Fedoca, Fabio Kerr, Adolfo Gentil, e muitos outros.

Não quero ser exagerado, mas durante um bom tempo tinha um monte de repórteres, cinegrafistas e fotógrafos em volta de nós, embevecidos pelas estórias do Arduíno.

Como já disse, não tive contato com ele nos velhos tempos, eu era bem mais jovem, mas sempre o admirei, por sua personalidade única, sua maneira corajosa de viver a vida.

O que era pra ser uma homenagem ao Peter Troy acabou sendo, isto e uma homenagem ao Arduíno. Foi emocionante ver os repórteres, muito mais jovens, querendo saber tudo da ligação do Arpoador com a bossa nova, com o cinema novo, tudo que efervescia durante os anos 50 e 60.

As repórteres querendo saber das mulheres era claro o fascínio que ele ainda exerce sobre as meninas, assim que começa a falar com seu jeito calmo e simples.

Eu fiquei como criança, ao lado dele, pra ouvir as estórias. Até Mário Bração, que é meu guru, ficou menino do seu lado.

Quando me entrevistaram, foi emocionante lembrar que o Penho passou por mim remando na primeira mini model bem ali, no samarangui, onde nós estávamos.

Eu pude ve-lo de novo, como no filme Titanic. Interessante a passagem do tempo. Eu não peguei as madeirites. Foi a época do Arduíno. Até os longboards. Quando as pranchas viraram mini, ele parou de surfar.

Foi quando começou a minha época. Eu não sabia nada sobre o Peter Troy, pouco sobre o Arduíno, antes de começar este blog. Só por isto, ele já vale.

Desculpe Fernanda, se você não é a primeira surfista mulher, quem é então? Já mudei no blog. Se pudermos ter outras homenagens como a de hoje, para outras lendas, vai ser o máximo. Quero poder presenciar.

Para resumir o sentimento do dia, cito o Mário:

Vou embora, chega de homenagens, visível mente emocionada!

Wady Mansur

Este cara não tem mais idade pra ganhar da garotada, mas se o critério de julgamento fosse qualidade de surf, ele ganhava fácil, em qualquer categoria.

É o surf de longboard mais bonito que conheço. Wady é um estudioso da estória do surf, das manobras, pesquisa como se fazia uma manobra há 40 anos atrás, treina pra fazer igual.

Eu o respeito muito por isto, acho importante para a nova geração entender de onde vêm as manobras, entender a cultura, a arte.

O Wady faz no Brasil o que o joel Tudor faz no mundo, reverenciar a cultura de longboard, senão, vira pranchinha grande.

Sua família está presente em todos os momentos da estória deste esporte, dos anos 70 até agora. Abriram uma loja MANSURF em frente á loja MAGNO, produziram roupas, parafinas, cordinhas, decks, fizeram campeonatos, enfim, Wady e Fuad estão em todas, sempre. Além do mais, nada mais engraçado do que ouvir o Wady com Picuruta e companhia, narrando um campeonato.

Fico meio deprimido quando vejo campeonato de Legends, caras que surfavam muito, hoje mal conseguem entrar nas ondas.

Wady, ao contrário, é um bálsamo pros olhos, está constantemente evoluindo, seu surf hoje é melhor do que era antes. (ou é o fotógrafo que é melhor?) Estas fotos são recentes!

Nosso objetivo

Resgatar e valorizar a memória do surf brasileiro, através das personalidades que foram marcantes, seus ícones.

Nada aqui é definitivo. Estamos postando nomes e uma pequena estória de cada um. Espero que as pessoas contribuam com sugestões de ícones e de estórias sobre os já listados.

Esta é uma obra em constante mudança, novos posts irão modificar os anteriores. Se alguma estória estiver errada, vamos consertar.

Se conseguirmos contar um pouco de nossa estória e de nossa cultura eu ficarei recompensado.

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