segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Pororoca chinesa

Fonte: Sérginho Laus

Logo em nosso segundo dia na China, nossos anfitriões já estavam preparando uma agenda recheada de compromissos e atividades turísticas. A equipe pensou que entraria fácil na diferença de fuso horário, mas logo no café da manhã todos fizeram o mesmo comentário; “Caracas, acordei de madrugada e não dormi mais!”. Enquanto no Brasil é 07:00hs da manhã, na China é 20:00hs da noite, estamos nos preparando pra dormir quando a galera no Brasa está indo pro trabalho. Isso porque o jantar na China geralmente é servido lá pelas 18:30hs da tarde.

O nosso primeiro encontro na cidade de Hangzhou foi com o centro de pesquisas oceanográficas da cidade. Doutores, professores e diretores do centro de estudos do rio Quintang e da “pororoca chinesa”, mostraram preocupados para nossa equipe como é o formato do encontro das águas chinesas. Aonde as ondas ficam maiores, menores, os riscos e os cuidados que deveríamos ter. Num galpão imenso, fomos surpreendidos por simulações da Black Dragon, a “pororoca” deles. Num tanque havia uma simples simulação de como funciona o fenômeno. Achamos muito maneiro, mas na seqüência fomos levados a uma área em que o rio Quintang estava reduzido numa escala de 1 para 600.

Lá pudemos ver uma real simulação de como a onda iria passar batendo nas margens concretadas e passando por debaixo de grandes pontes no meio da cidade. Uma das maiores diferenças da pororoca da Amazônia e da chinesa é que nesse lado do mundo toda a margem do rio é concretada para conter a erosão das fortes marés que adentram na cidade. Com isso o rio possui um formato definido e perigoso. Com diversas construções do ser humano para tentar romper a força do fenômeno o fundo do rio fica tomado de pedras, lages e até ferros contorcidos. O fluxo e refluxo das águas se mantém sempre estável, pois não existe a erosão do rio e as grandes marés ganham uma força estupenda por isso. O afunilamento do rio faz com que a energia armazenada nela se torno absurda e extremamente perigosa nos grandes dias, mesmo porque o rio acaba sempre ficando bastante raso.

Ficamos impressionados com a engenharia dos caras! Muito bom mesmo e ao observar por duas vezes a passagem da onda na simulação ficamos, como muleques, viajando na formação das micro ondas na maquete de concreto gigante. Formavam direitas, esquerdas, redemoinhos nas curvas, backwashs e tudo que acontece com a passagem do fenômeno. Muito maneiro, mas se fosse realmente daquele jeito teríamos um longo percurso de surf.

Sempre éramos alertados dos perigos, parecia que éramos leigos no assunto, mas o mecanismo é o mesmo em todas as pororocas do mundo. O que eles não sabiam, era que ali estavam as pessoas que mais entendem nesse assunto no mundo e que a maior diferença estava apenas na topografia diferente da do Amazonas! Ao invés da floresta mais rica do mundo, estavam construções enormes do ser humano!

Na empolgação do momento, fomos chamados para observar pela primeira vez a onda misteriosa, que já estava para passar! Ansiosos para o momento tão esperado, pegamos os carros e partimos para a margem do rio. Perigo constante na rua!!! Como sabemos a China é o país mais populoso do mundo e aqui podemos ver que isso é verdade mesmo... Muita gente na rua, muitos carros, motos e bicicletas.

O trânsito é de louco, se fosse no Brasil as pessoas iriam se matar com as absurdas manobras que os chineses fazem nos cruzamentos, ultrapassagens e fechadas na cara dura. A buzina é muito usada, como um equipamento de agressão ao próximo. O incrível é que com toda essa loucura, não víamos nenhum acidente de trânsito e poucos policiais. Chegamos a comparar as saídas de carro com aqueles carrinhos de choque que existem nos parques de diversão. Coitado dos pedestres que são desrespeitados sem a menor piedade. “Agora morreu”, dizia o Likoska. Mas sempre se safavam! O pior é que eles não estão nem ai nessa mal educação do trânsito e tudo ocorre naturalmente, para eles é lógico, pois ficamos apavorados com as situações presenciadas.

Depois da aventura nas ruas de Hangzhou chegamos em cima da hora para ver a onda passar. Mesmo com três dias de antecedência da lua, já era possível ver o aparecimento do mito. A maré nessa lua não é pequena e para se ter idéia, a onda iria ficar boa mesmo somente após o primeiro dia depois da lua cheia. Mesmo com quatro dias antes do grande dia a onda do outside já apresentou um tamanho bom e a expectativa ficava ainda maior.

O avistamento da onda nos deixou instigados e para eliminar um pouco dessa adrenalina, fomos testar os equipamentos que iríamos usar na ação; um jetski SeeDoo 1.300CC com motor 4 tempos, dois jets de 700CC mais simples e um belo flexboat com motor de 70hp. O local dos testes foi numa área super badalada e um dos pontos mais belos de toda a região, o West Lake.

Com um visual maravilhoso, fizemos todos os testes e fomos comer uma típica comida chinesa. Sempre acompanhado com chá verde a comida a base de frutos do mar e vegetais chamou a nossa atenção mais uma vez. Márcio se acostumou rápido e mando de prima um ovo podre e língua de pato. Lik foi na cola e também dropou um ovo podre! Eu, Jorge e Glauco amarelamos e ficamos apenas nos fungos de madeira e outras especiarias diferentes. Mas pra mim o melhor mesmo era o arroz!

De barriga cheia o objetivo era o shopping!!! Comprassss.... Muitas encomendas de produtos eletrônicos...hehehehe.... mas por incrível que pareça essa região tem preços muito elevados e não valeu a pena comprar nada! Tristeza, todos estavam esperando em achar os brinquedinhos de última geração, mas nada!

À noite, num jantar de gala numa ilha situada no lago do West Lake, tivemos a presença do chefe dos esportes da cidade de Hangzhou, o chefe da Marinha e outras autoridades. Apresentações e discursos feitos, foi hora de mandar ver nos pratos exóticos e brindar com o vinho amarelo local, vários campaim. Numa hora do jantar o chefe absoluto da mesa se empolgou e fez uma apresentação de kung fu. E na empolgação ele me pegou num golpe que quase me levou para o chão!!! Acho melhor parar de brindar, essa história de campaim, faz com que a pessoa intimada no brinde tome de uma vez só toda a bebida do copo.

Quase bêbados fomos caindo para o hotel descansar, pois o dia seguinte será de surf.